“Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois
sem fermento. Porque Cristo, nossa
páscoa, já foi sacrificado.” (1 Coríntios 5.7)
A festa da Páscoa é a comemoração cristã mais
antiga, é o evento principal do cristianismo e isto é devido a termos nela
envolvida a Paixão de Cristo, sua Crucificação e Ressurreição.
Páscoa é o “Domingo
dos Domingos” para os cristãos, mas a sua marca foi adotada por Jesus através da tradição judaica, pois a
Páscoa para o judeu era uma ordenança do Antigo Testamento, onde temos a
libertação do povo do Egito e sua caminhada para a Canaã. Nesse evento a
lembrança é um tempo de sofrimento e escravidão egípcio e ainda o grande
livramento da morte dos primogênitos daqueles que tinham o sangue do carneiro
sobre o umbral de suas casas. O grande livramento e libertação que o povo judeu
teve, ficou marcado na sua história e Deus estabeleceu a Páscoa judaica para
que eles se lembrassem deste episódio e permanecessem firmes nos propósitos
divinos. No séc. VI a.C foi criada pelos judeus o Hagadá, uma tradição onde foi estabelecida a ceia com os elementos
do pão, carneiro, ervas amargas e vinho, muito semelhante ao que é realizado
atualmente pelos judeus. O pão que não teve tempo de ser levedado, o osso do
carneiro sacrificado lembrava o livramento dos primogênitos, as ervas amargas
simbolizando o tempo que estiveram sob o jugo egípcio e as taças de vinho
apontando para a obra de Deus em libertar o seu povo. Páscoa fala de memória, de identidade.
Jesus utiliza desta tradição para estabelecer a
Páscoa cristã, e os cristãos até o séc. IV d.C utilizavam desta tradição,
apenas os significados eram diferentes: as ervas amargas simbolizavam o tempo
que estávamos escravos no pecado, o carneiro o próprio Cristo, o pão o Seu
corpo que foi moído em nosso lugar e o vinho Seu precioso sangue derramado em
nosso favor.
“O simbolismo da Páscoa é parte da
mensagem no Novo Testamento, e toda a obra da Cruz se baseia no evento da
Páscoa Judaica. Yeshua não apenas é morto na Páscoa, mas ele simboliza o
próprio CORDEIRO pascal (I Co 5:8), que TIRA o pecado do mundo (Jo 1:29) e cujo
sangue nos liberta, nos resgata da escravidão do pecado e nos SELA como Seus
filhos. Nele (Yeshua), somos feitos
NOVAS CRIATURAS sem o fermento da malícia e da maldade. Como podemos ver, não
se pode entender a obra da cruz sem o conhecimento dessa que é a mais simbólica
das Festas de Deus. Páscoa fala de nossa LIBERTAÇÃO para servirmos a Deus.”
(Guimarães, Matheus Zandona).
Há uma grande conexão do simbolismo do
sacrifício de Jesus com a Páscoa judaica, os significados são ampliados e
aplicados de maneira e esclarecer a revelação de Jesus como o cordeiro pascal.
Mas tudo isto ficaria sem sentido se não
conseguíssemos entender a amplitude do sentido da Páscoa e ainda mais sem
aplicar este sentido para nós, esta é a Páscoa que precisamos.
Quando o apóstolo João escreve sobre a paixão
de Cristo em três momentos ele cita a expressão: “E estava próxima a Páscoa dos judeus...” estas expressões são relacionadas
a três milagres que Jesus fez, estes momentos são marcados como que
propositadamente pelo apóstolo, parece que estes episódios chamaram a sua
atenção por serem próximos à festa pascal.
1) A Páscoa e o milagre do vinho (João 2.13)
Em
Caná foi realizado o primeiro milagre de Jesus, no primeiro ano de seu
ministério, neste milagre Jesus está em um casamento e em dado momento falta
vinho, então Jesus manda encher as talhas
com águas (recipientes que comportavam de 80 a 120 litros de água) e depois
mandou servir. A água se transformou em vinho. E este vinho chamou a atenção
dos convidados porque era melhor que o anterior, o que não era comum, pois o
melhor vinho viria primeiro.
Quando
olhamos para este milagre podemos ter várias aplicações, mas gostaria de
analisar sob a ótica da Páscoa. Sabemos que o vinho fazia parte da ceia pascal
judaica Hagadá que foi adotado
posteriormente, ou seja, na noite da libertação de Israel não fora utilizado,
mas Jesus na última ceia faz alusão ao vinho: “Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este
cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes,
em memória de mim.” (1 Coríntios 11.25)
Quando
nos referimos ao sangue de Jesus derramado na cruz, o sacrifício da nossa
Páscoa que é Jesus, ou quando dizemos o termo: “o sangue de Jesus tem poder”, estamos nos referindo a libertação de
pecados, quando falamos em libertação de pecados falamos de uma nova vida, a
transformação que Deus faz em transformar o nosso coração de pedra em coração
de carne, em nos transformar como da água em vinho, somos novas criaturas, sem
fermento, livres da força pecado.
O
profeta João ao avistar Jesus gritou com muito veemência: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29)
Se a
expressão transformação está relacionada a Páscoa, porque ainda percebemos
cristãos que tentam se iludir com uma vida ambígua, sem conexão com esta
transformação proposta nas Escrituras? Porque em um país com 80% de cristãos
percebemos tamanho abuso contra o patrimônio público? Privando o direito do
cidadão a ter uma educação apropriada, um sistema de saúde que contemple as
necessidades da população com tratamento humanitário e digno... e se fizermos
uma enquete perguntando quem é cristão, com certeza a grande maioria diria: “Sim, vou à igreja todos os domingos”, “Sim, dou o meu dízimo”, “Sim, acredito em um ser superior” e aí
vai... Dizemos que tudo é corrupção... corrupção do gênero humano que se
debruça ao pecado da ganância, do individualismo, da soberba...
Ser
cristão é ser transformado, mudado, não podemos passar pelo período pascal
querendo continuar morando no Egito, temos que sair para a nossa jornada no
deserto, temos que morrer a cada dia para nós mesmos, temos que carregar a
nossa cruz diariamente e sermos transformados à imagem de Cristo, para que os
nossos pecados sejam apagados.
“Esta
é a aliança que farei com eles depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as
minhas leis em seus corações, e as escreverei em seus entendimentos; acrescenta:
E jamais me lembrarei de seus pecados
e de suas iniqüidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo
pecado. Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de
Jesus [...]”(Hebreus 10.16-19)
Esta é a Páscoa que precisamos!
2) A Páscoa e a multiplicação dos pães (João
6.4)
Quando
o apóstolo João cita novamente a expressão “estava
próxima a páscoa dos judeus” aconteceria logo em seguida a multiplicação
dos pães, este milagre aconteceu no segundo ano de seu ministério.
Havia
uma multidão faminta e eles tinham apenas cinco pães e dois peixinhos de um
garoto que estava por lá... Jesus então manda todos se assentarem e servirem o
que tinham, todos ficam satisfeitos e no final ainda colhem doze cestos de
pães. Neste mesmo capítulo Jesus declara: “E
Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e
quem crê em mim nunca terá sede.” (João 6.35)
Jesus
é o que precisamos nesta Páscoa, a essência do Evangelho nos mostra um povo
faminto, que não sabe como se alimentar adequadamente, pessoas que buscam
solução para seus problemas em vários lugares, pessoas que diariamente tentam
saciar seus anseios e desejos em coisas e práticas fúteis. Vemos uma geração
faminta que está se definhando em sua busca pela autossatisfação.
O povo
no deserto tinha o maná diário, nós temos Jesus, o pão do céu que nos é dado
pelo Pai. Temos o alimento espiritual necessário para termos uma vida abundante
em Deus. Precisamos estar ligados a Jesus, para estarmos nutrido adequadamente,
precisamos da presença do Pão do Céu.
Jesus
tem sido substituído por “práticas
religiosas superficiais”, muitos que se denominam cristãos, além de não
testemunharem uma vida transformada, como vimos no tópico anterior, ainda não
relacionam sua vida diária com Cristo, é necessário mudar isto para ter uma
vida cheia do Espírito Santo, para ser abundante na obra de Deus.
Jesus
na última ceia toma o pão sem fermento e diz: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim.”
(1 Co 11.24). O corpo de Cristo que foi entregue como sacrifício, simbolizando
o cordeiro pascal que morreria para salvação. Lembrar que Cristo é o pão na
ceia, é lembrar que Ele se sacrificou para que nós pudéssemos ter a
reconciliação com Deus, ter restaurada a intimidade com o Pai, viver a nova
vida com Deus de forma plena e intensa.
Quando
o Cristo ressurreto serviu o pão aos discípulos que estavam a caminho de Emaús,
a Bíblia diz que seus olhos abriram e reconheceram a Cristo (Lc 24.30-31).
Quando nos alimentamos do pão da vida nossos olhos se abrem para a verdade, e
podemos ver e entender o Reino de Deus, o Cristo Ressurreto, a Palavra de Deus.
Esta é a Páscoa que precisamos!
3) A Páscoa e a ressurreição de Lázaro (João
11.55)
Agora no
terceiro ano de seu ministério, próximo à Páscoa dos judeus e próximo à sua morte
na cruz, Jesus ressuscita seu amigo Lázaro que jazia a quatro dias.
Nesta
ocasião Jesus fala a Marta: “Se creres
verás a glória de Deus” (vv.40). A ressurreição de Lázaro fora para mostrar
a glória de Deus e fazer um pré-anúncio da ressurreição do Cristo. Tanto que
ele afirma: “Declarou-lhe Jesus: Eu sou a
ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele
que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?” (João 11.25-26)
A
Páscoa é a ressurreição da esperança, da vida eterna, este fato foi tão
marcante e imprescindível para o entendimento da fé cristã que Paulo declarou:
“E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã
a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15.14). O fato de
Cristo ter ressuscitado traz o sentido de toda uma mensagem que vinha sendo
anunciada por Ele. Páscoa é a vitória sobre a morte eterna. Páscoa é a
libertação para a vida eterna.
Acredito
que o apóstolo João percebeu esta relação com a Páscoa, temos neste período
cristãos no mundo que estão sendo perseguidos e que não podem realizar um culto
de celebração público, nesta páscoa com certeza há cristãos no mundo chorando o
luto de seus entes queridos que foram martirizados, com certeza há cristãos
nesta Páscoa que não tem um alimento para colocar as suas mesas, com certeza,
há muitos cristãos que estão padecendo fisicamente por uma enfermidade,
cristãos na Síria que estão se alimentando por doações ou sobras. Mas acima de
tudo isto, todos têm a firme esperança, de que mesmo que o seu corpo
corruptível morra, não ficarão nesta condição, porque aqueles que creem em
Cristo, creem que seu sangue nos purifica de todo pecado, que Cristo é o nosso
alimento do céu, que Cristo ressuscitou, não irão padecer na morte, mas
passarão da morte para a vida, estarão na eternidade com Cristo e tem em seu
coração a convicção, como está citado no final do Credo Niceno: “Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida
do mundo vindouro”. Esta é a Páscoa que precisamos!
Conclusão
Cristo
é a nossa Páscoa.
Seu
sangue derramado, seu corpo entregue para o sacrifício e a sua ressurreição dos
mortos.
O
Cristo que foi sacrificado agora vive, e Ele disse que estaria conosco todos os
dias até a consumação dos séculos.
O Cristo
que for sacrificado foi assunto aos céus.
O
Cristo que foi sacrificado está a direita do Deus Pai, Todo Poderoso.
O
Cristo que foi sacrificado virá para buscar a sua Igreja gloriosa.
Esta é a Páscoa que precisamos.
Pr. Valdomiro Cardoso Filho
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